sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Ícone Junino


Acender a fogueira
Soltar balão
Marcar a quadrilha
Lá no palhoção
Vamos festejar meu são João


(Refrão da Música: "Quadrilha No Pé de Serra" de Flávio José)


O São João, uma festa tipicamente nordestina, acontece sempre no mês de Junho, não poderia existir sem seu elemento mais importante que propaga toda uma magia para aqueles que se envolve e para aqueles que o admiram, eu vos falo da quadrilha junina.

Trazida pela corte no século XIX a quadrilha se transformou em um dos elementos fundamentais nas festas juninas. À medida que foi se popularizando, principalmente no Brasil e em Portugal, o nome "quadrilha" foi começando a ser utilizado, seguindo, aliás, uma terminologia utilizada na Espanha e na Itália, onde identificava a contradança, dançada por quatro pessoas. Desta "quadrilha de quatro" derivou a "quadrilha geral".


(Quadrilha Truaka de 1992)

Para brincar quadrilha, não é muito difícil, a quadrilha improvisada é uma das mais praticadas no meio da festa de São João. Geralmente tudo começa com o casamento matuto, ou casamento da roça, no casamento alguns personagens não podem faltar: o "noivo e a noiva"; na maioria das vezes o noivo não quer casar, os pais da noiva, principalmente o pai, armado com uma espingarda daquelas de carregar pela boca, para forçar o noivo a "cumprir o dever". Os pais do noivo, uma amante do noivo que algumas vezes se encontra grávida do noivo, que tenta, na última hora, não deixá-lo casar, amigos e amigas do casal, estão sempre presentes. E o padre, evidentemente. Como se pode ter casamento na roça sem o seu vigário? Bonachão e transformando-se na figura mais importante da festa, contando, para isso, com a importante contribuição de uma viúva beata. E como tudo acaba em festa, o casamento termina em quadrilha.

As quadrilhas juninas, principalmente as quadrilhas urbanas (das capitais) hoje convertidas a um novo modelo, criam os novos estilos, uma nova e bem mais eficaz forma para se comunicar com o público. As chamadas quadrilhas estilizadas têm mais o caráter de propagar um grande espetáculo para o povo, diferente das quadrilhas tradicionais, que tem mais a índole de divertir os membros da quadrilha e uma quantidade limitada de pessoas que as assistem, como amigos e parentes dos dançarinos da quadrilha; não que as estilizadas não sejam divertidas para quem dançam, entretanto, perdeu a propriedade do improviso. Essas reinvenções das quadrilhas juninas criam novas linguagens e novas maneiras de se comunicar com o público, como diz LIMA:

Não há, portanto, como mais se sustentar a ideia destas presas às categorias da tradição ou da origem; se tais enunciados ainda são utilizados nos discursos e na prática da festa junina, existem como instrumentos de substância, de legitimação e instituição; existem como linguagem de um tempo pretérito, para se apresentarem na festa junina em sua versão urbana, como dispersão, como deslocamentos de sentidos que afastam-se cada vez mais de um pretenso “modelo original”. (LIMA, 2002, p. 139)

A quadrilha é um exemplo de dinâmica da cultura popular, caiu no gosto do povo, e se introduziu nas tradições brasileiras, se tornando a grande festa do ciclo junino.


(Quadrilha Junina Lumiar no Teatro Guararapes em 2008)

Bibliografia:

LIMA, Elizabeth Christina de Andrade. A Fábrica dos Sonhos: a invenção da festa junina no espaço urbano. João Pessoa: Ideia, 2002.
MENEZES NETO, Hugo. O balancê no arraial da capital: quadrilha e tradição no São João do Recife. Recife: Ed. Do autor, 2009.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

I Jornada do Patrimônio Cultural

Caros Amigos,

Convidamos todos a participarem da I Jornada do Patrimônio Cultural, que acontecerá no dia 18 de dezembro (sexta-feira), no Palácio da Soledade Iphan–Católica. O evento contará com palestras, debates sobre educação patrimonial, feira de ciências dos alunos do Liceu Nóbrega de Artes e Ofícios e o “balcão de parceiros”, com a participação das principais instituições que trabalham com patrimônio cultural em Pernambuco.

domingo, 13 de setembro de 2009

As Festas Juninas


Céu de estrela sem destino
De beleza sem razão
Tome conta do destino, Xangô
Da beleza e da razão
(...)
Fogo, fogo de artifício
Quero ser sempre o menino
As estrelas deste mundo, Xangô
Ai, São João, Xangô Menino


(São João, Xangô menino – Caetano Veloso)

As Festas Juninas são manifestações com grande participação popular, com um significado profundo, ligado a tradição. Está relacionada à política e à economia regional.
Hoje, a festa assumiu uma feição muito própria. O evento inseriu-se na lógica da sociedade de consumo e faz parte da Indústria Cultural (consequência do nosso sistema capitalista, acendendo a discussão se é ou não Cultura Popular).

Entretanto, constatar e afirmar que a festa junina perdeu o seu caráter rural e o seu estatuto de festa de arraial, com profundos laços identitários com as comunidades rurais ou com determinados bairros tradicionais da cidade do Recife, não resolvemos o problema, é uma discussão quase sem fim, só não podemos esquecer que a cultura rural é a gênese deste movimento (O Ciclo Junino no Nordeste brasileiro).

Vale salientar, que as festas de São João, principalmente com a participação das Quadrilhas Juninas; que é predominante nos bairros de periferia da Cidade do Recife, é típico da região Nordeste, claro que há outros Estados brasileiros que comemoram a festa, até países da Europa, católicos, protestantes e ortodoxos não deixam de festejar no mês de Junho, mas é no Nordeste que a festa traveste de caráter tradicional. Em algumas festas de São João européias são realizadas a fogueira de São João e a celebração de casamentos reais ou encenados, semelhantes ao casamento fictício que é um costume no baile da quadrilha nordestina.

Referência Bibliográfica:

MORIGI, Valdir Jorge. Narrativas do Encantamento: o maior São João do Mundo, mídia e cultura regional. Porto Alegre: Armazém Digital, 2007.


MENEZES NETO, Hugo. O balancê no arraial da capital: quadrilha e tradição no São João do Recife. Recife: Ed. Do autor, 2009.

Vejam uma reportagem de 2007 sobre a Festa Junina:


sábado, 12 de setembro de 2009

EXPOSIÇÃO ITINERANTE "LUA GONZAGA"


A Universidade Católica de Pernambuco promeve de 14 a 18 de setembro a Exposição Intenerante "Lua Gonzaga", exibindo peças que retratam um pouco da história do nosso Rei do Baião. A abertura acontece às 15h. A exposição faz parte do Festival de Primavera da UNICAP.



PERÍODO: 14 a 18 de setembro / 2009
Local: Espaço Receptivo - Bloco G - 1º andar
Horário: das 15h às 21h

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Festival homenageia 100 anos de Mestre Vitalino

EXPOSIÇÃO

Narrativas em Barro: vida e obra de Vitalino Pereira dos Santos - de 20/09 a 30/12

A vida e a obra de Vitalino Pereira dos Santos retratadas em 61 peças feitas por um dos maiores artistas populares do Brasil e que pertencem ao acervo do Museu do Homem do Nordeste. A exposição é dividida em dois grandes módulos: O Homem e O Artista.

Dos caxixis — que fazia para brincar, quando criança, com a mãe louceira e o pai agricultor — à vida adulta, como torcedor do Central, tocador de pífano e pai de seis filhos, os primeiros aprendizes de sua arte. Essa é a temática do primeiro módulo.

No segundo módulo, o visitante terá um panorama de sua obra: como Vitalino criava suas peças, seus instrumentos e as diversas fases que percorreu segundo a divisão proposta pelo antropólogo René Ribeiro, retratando os mais diversos temas, como as festividades no Agreste, as profissões e as cenas do cotidiano vividas pelo próprio artista.



ABERTURA OFICIAL

Dia 20/09/2009, DOMINGO
Programa Família no Museu – Abertura oficial do Festival
Local: Museu do Homem do Nordeste
Horário: das 13h às 18h
Endereço: Avenida 17 de Agosto, 2187 - Casa Forte - Recife/PE




Fonte: Fundação Joaquim Nabuco - http://www.fundaj.gov.br

sábado, 5 de setembro de 2009

Maracatu Rural ou Maracatu de Baque Solto

O Maracatu Rural também conhecido como Maracatu de Baque Solto, de Trombone ou de Orquestra, é hoje uma das manifestações artísticas mais interessantes do carnaval pernambucano. A fusão de outras expressões artísticas populares (provenientes do interior) como o reisado, cavalo-marinho, bumba-meu-boi, caboclinhos, entre outros, com o tempo construiu a identidade do Maracatu Rural. Essa mistura está atrelada ao fato de que nas primeiras décadas do século XX, com a crise do açúcar, muitos engenhos fecharam e os trabalhadores foram obrigados a migrar para os grandes centros urbanos e assim essa grande fusão de ritmos passou a fazer parte das áreas em que os trabalhadores do campo moravam (morros, altos e alagadiços da cidade grande).

Sobre a origem do Maracatu de Baque Solto não existe um consenso, ele pode ter surgido entre o fim do século XIX e início do século XX, sendo no começo uma brincadeira de Cambindas (homens que se vestiam de mulher).

A estrutura do Maracatu de Baque Solto

Dos brinquedos, ou símbolos que compõe o Maracatu Rural, permaneceram as figuras do interior como Mateus, Catirina, a Burrinha, entre outros. O cortejo se completa com as baianas (inserindo a mulher nesse meio cultural), o caboclo arreimá (um personagem que não usa lança, sendo mais um protetor da Corte, uma proteção espiritual) e o mestre (que comanda os versos, um verdadeiro regente). Talvez a principal figura - e a que mais chama atenção - no Maracatu de Baque Solto seja o “Caboclo de Lança” (também conhecido como Caboclo Guiada, Lanceiro ou Guerreiros de Ogum). Com a sua roupa colorida e a sua lança enfeitada com fitas de seda o Caboclo de Lança se apresenta como um verdadeiro guardião do cortejo. Hoje ele é considerado um dos símbolos do carnaval de Pernambuco.
*[Abaixo segue um video mostrando boa parte das figuras que integram o Maracatu Rural.]


Principais Maracatus de Baque Solto

- Maracatu de Baque Solto Cambinda Brasileira - fundado em 05/01/1918 (Nazaré da Mata)
- Maracatu de Baque Solto Cruzeiro do Forte - fundado em 07/09/1929
- Águia de Ouro - fundado em 1933
- Leão da Aldeia - fundado em 1935
- Cambinda Estrela de Paudalho - fundado em 1935
- Estrela da Tarde - fundado em 1942
- Estrela de Ouro - fundado em 1963

Referências:
Prefeitura da Cidade do Recife. Cartilha do Carnaval 2008.
Lima, Claudia M. de Assis Rocha. Site da Fundaj.
Prefeitura da Cidade do Recife. Guia do Folião.

domingo, 30 de agosto de 2009

Diálogos Culturais promove palestra sobre quadrilhas juninas





Com o intuito de defender como as pessoas que participam de quadrilhas juninas integram, de fato, um real e complexo movimento, o professor da Faculdade Frassinete do Recife (Fafire) Hugo Menezes ministrou a palestra intitulada: “Movimento Junino”. O evento, promovido pelo Diretório Acadêmico do curso de História da Católica, aconteceu às 17h desta segunda-feira (17), no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), localizado no 1° andar do bloco B.

Mapeando 30 quadrilhas do Recife e 25 da Região Metropolitana (RMR), dentro de Olinda, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Abreu e Lima, São Lourenço, Jaboatão dos Guararapes e Paulista, o historiador Hugo Menezes, por meio de um estudo que resultou na sua dissertação de mestrado em Antropologia, tentou abordar os mais variados aspectos antropológicos que envolvem o movimento das quadrilhas juninas. “Para compreender bem os costumes e o modo de fazer desses grupos, procurei participar de eventos como o Concurso Pernambucano de Quadrilhas, o Festival de Quadrilhas da Rede Globo e os Regionais, além de seminários, cursos, reuniões e encontros informais”, comentou. Na ocasião, foi vendido o livro de Hugo Menezes, dividido em três capítulos, os quais ele se baseou para realizar sua apresentação, intitulado: “O Balancê no Arraial da Capital - Quadrilha e Tradição no São João do Recife”, ao preço de R$20.

O primeiro capítulo comenta as mudanças e permanências, além da história das quadrilhas juninas do Recife e da Região Metropolitana ou a constituição de um campo de disputas simbólicas de tradição. Segundo Hugo, as quadrilhas juninas teriam vindo da Normandia e que, antes de chegar aos centros urbanos brasileiros, teriam se disseminado pela Europa e adquirido características específicas dos locais por onde passou. “Ao Brasil, as quadrilhas juninas chegaram com a família real portuguesa. Uma vez aqui, o personagem matuto veio para legitimar o processo de urbanização, que pedia mudanças na época. Por isso que o matuto é o desdentado, o desengonçado, uma vez que simboliza o atraso, em detrimento do homem naturalmente urbanóide, o oposto do rural”, explicou.

Hugo colocou, ainda, nesta primeira parte do livro, o que ele considera ser diferentes tipos de quadrilha. Seriam as tradicionais, as estilizadas e as recriadas. “As quadrilhas, embora estilizadas e coreografadas, não perdem o sentido inicial de quadrilha tradicional, pensada como um verdadeiro quadrado. No caso, de onde se origina a palavra quadrilha”, afirmou. O historiador explicou também que as quadrilhas recriadas trazem mudanças para os seus praticantes e são os próprios quadrilheiros que propõem essas recriações ao incorporarem elementos regionais, cenográficos e alegóricos à apresentação.

Além disso, até figuras caricatas aparecem nesse momento, como homens vestidos de mulheres. “Hoje, tudo é considerado, dentro do mesmo patamar de definição, como quadrilha junina. O que muda é o passo, a maneira de se expressar e vestir, mas o tradicionalismo ainda é presente, apesar de esse tradicionalismo encontrar-se muito mais dentro do contexto de quadrilhas recriadas do que, propriamente, em quadrilhas puramente tradicionais”, destacou. Hugo complementou essa observação exemplificando que as quadrilhas tradicionais podem existir, ainda, de fato, nas escolas e quando existir o interesse particular de um grupo em realizá-la. “É raro também observar a imprensa explorando a temática do tradicionalismo quadrilheiro. Muito mais comum é a abordagem das quadrilhas que desenvolvem trabalhos sociais”, ressaltou.
O capítulo 2 da obra coloca a questão da censura prévia, ou seja, os agentes que funcionam como filtros na permissão ou não da entrada de novos elementos integrantes de uma quadrilha. Segundo Hugo, aos quadrilheiros escolhem o que vão colocar na quadrilha. Da mesma forma, os concursos e jurados vão definir qual será a quadrilha campeã e, assim, definir que modelo de quadrilha deverá servir de exemplo. As comunidades, por sua vez, agem com papel fundamental de ajudar as quadrilhas a sobreviverem, como, por exemplo, por meio de rifas.

E o poder público, que é responsável pelos concursos, seminários e palestras, legitima, por meio de panfletos, um São João tradicional, mas recriado, com desenhos de quadrilheiros estilizados. “Ao afirmar que Pernambuco tem um São João tradicional, mas, por outro lado, distribuir um informativo com desenhos de quadrilhas estilizadas, ele está disseminando que o tradicionalismo corresponde exatamente àquelas imagens estampadas no papel”, destacou.

Por fim, o último capítulo denota a questão da dinâmica de produção das quadrilhas, que, de acordo com Hugo, constitui-se em um movimento de juventude, uma vez que comparado, por exemplo, aos maracatus, os componentes das quadrilhas não ultrapassam, normalmente, os 40 anos. Uma quadrilha, contou Hugo, pode chegar a fazer cerca de 30 apresentações por São João.
“Durante as festas das quadrilhas, jovens articulam-se com outros, há a promoção de relações intergrupais, existe força política também por trás, por meio da Federação das Quadrilhas Juninas de Pernambuco (Fequajupe). Ao estabelecerem relações quase que familiares, as quadrilhas revelam-se como espaços intermediários entre o público e o privado”, argumentou. E prosseguiu: “A quadrilha junina vai além de um mero arraial, pois gera emprego e renda e as pessoas também se envolvem emocionalmente com aquilo”.

Hugo Menezes encerrou sua palestra com a fala de Fábio Andrade, da Quadrilha Lumiar:

“Quadrilha é toda uma expressão do povo, de comunidade, do jovem, da vontade de ser feliz, de dançar, de competir, de ser estrela, de ser brincante. Também é religião para quem ama, é alimento, fonte de energia”.
(Quadrilha Junina Lumiar (2008) no Teatro Guararapes)

MENSAGEM DE ABERTURA


Caros Amigos,

É com imenso prazer que iniciamos as atividades deste blog.

A idéia foi originada quando percebi a importância de divulgar e expandir o conhecimento das mais diversas manifestações da cultura do Estado de Pernambuco – Brasil, juntamente com amigos que são especialistas em História e em outras áreas.

Neste blog serão postados artigos, entrevistas, dicas de livros, vídeos, poesias, trechos de músicas e fotografias que retratam a magnífica diversidade da Cultura Pernambucana.

Esperamos que este também seja um espaço de diálogos, críticas e sugestões com pessoas que conheçam ou não os elementos culturais desta terra.


Obrigado pela visita e fiquem ligados!


Abraços,

Luiz Santos