domingo, 30 de agosto de 2009

Diálogos Culturais promove palestra sobre quadrilhas juninas





Com o intuito de defender como as pessoas que participam de quadrilhas juninas integram, de fato, um real e complexo movimento, o professor da Faculdade Frassinete do Recife (Fafire) Hugo Menezes ministrou a palestra intitulada: “Movimento Junino”. O evento, promovido pelo Diretório Acadêmico do curso de História da Católica, aconteceu às 17h desta segunda-feira (17), no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), localizado no 1° andar do bloco B.

Mapeando 30 quadrilhas do Recife e 25 da Região Metropolitana (RMR), dentro de Olinda, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Abreu e Lima, São Lourenço, Jaboatão dos Guararapes e Paulista, o historiador Hugo Menezes, por meio de um estudo que resultou na sua dissertação de mestrado em Antropologia, tentou abordar os mais variados aspectos antropológicos que envolvem o movimento das quadrilhas juninas. “Para compreender bem os costumes e o modo de fazer desses grupos, procurei participar de eventos como o Concurso Pernambucano de Quadrilhas, o Festival de Quadrilhas da Rede Globo e os Regionais, além de seminários, cursos, reuniões e encontros informais”, comentou. Na ocasião, foi vendido o livro de Hugo Menezes, dividido em três capítulos, os quais ele se baseou para realizar sua apresentação, intitulado: “O Balancê no Arraial da Capital - Quadrilha e Tradição no São João do Recife”, ao preço de R$20.

O primeiro capítulo comenta as mudanças e permanências, além da história das quadrilhas juninas do Recife e da Região Metropolitana ou a constituição de um campo de disputas simbólicas de tradição. Segundo Hugo, as quadrilhas juninas teriam vindo da Normandia e que, antes de chegar aos centros urbanos brasileiros, teriam se disseminado pela Europa e adquirido características específicas dos locais por onde passou. “Ao Brasil, as quadrilhas juninas chegaram com a família real portuguesa. Uma vez aqui, o personagem matuto veio para legitimar o processo de urbanização, que pedia mudanças na época. Por isso que o matuto é o desdentado, o desengonçado, uma vez que simboliza o atraso, em detrimento do homem naturalmente urbanóide, o oposto do rural”, explicou.

Hugo colocou, ainda, nesta primeira parte do livro, o que ele considera ser diferentes tipos de quadrilha. Seriam as tradicionais, as estilizadas e as recriadas. “As quadrilhas, embora estilizadas e coreografadas, não perdem o sentido inicial de quadrilha tradicional, pensada como um verdadeiro quadrado. No caso, de onde se origina a palavra quadrilha”, afirmou. O historiador explicou também que as quadrilhas recriadas trazem mudanças para os seus praticantes e são os próprios quadrilheiros que propõem essas recriações ao incorporarem elementos regionais, cenográficos e alegóricos à apresentação.

Além disso, até figuras caricatas aparecem nesse momento, como homens vestidos de mulheres. “Hoje, tudo é considerado, dentro do mesmo patamar de definição, como quadrilha junina. O que muda é o passo, a maneira de se expressar e vestir, mas o tradicionalismo ainda é presente, apesar de esse tradicionalismo encontrar-se muito mais dentro do contexto de quadrilhas recriadas do que, propriamente, em quadrilhas puramente tradicionais”, destacou. Hugo complementou essa observação exemplificando que as quadrilhas tradicionais podem existir, ainda, de fato, nas escolas e quando existir o interesse particular de um grupo em realizá-la. “É raro também observar a imprensa explorando a temática do tradicionalismo quadrilheiro. Muito mais comum é a abordagem das quadrilhas que desenvolvem trabalhos sociais”, ressaltou.
O capítulo 2 da obra coloca a questão da censura prévia, ou seja, os agentes que funcionam como filtros na permissão ou não da entrada de novos elementos integrantes de uma quadrilha. Segundo Hugo, aos quadrilheiros escolhem o que vão colocar na quadrilha. Da mesma forma, os concursos e jurados vão definir qual será a quadrilha campeã e, assim, definir que modelo de quadrilha deverá servir de exemplo. As comunidades, por sua vez, agem com papel fundamental de ajudar as quadrilhas a sobreviverem, como, por exemplo, por meio de rifas.

E o poder público, que é responsável pelos concursos, seminários e palestras, legitima, por meio de panfletos, um São João tradicional, mas recriado, com desenhos de quadrilheiros estilizados. “Ao afirmar que Pernambuco tem um São João tradicional, mas, por outro lado, distribuir um informativo com desenhos de quadrilhas estilizadas, ele está disseminando que o tradicionalismo corresponde exatamente àquelas imagens estampadas no papel”, destacou.

Por fim, o último capítulo denota a questão da dinâmica de produção das quadrilhas, que, de acordo com Hugo, constitui-se em um movimento de juventude, uma vez que comparado, por exemplo, aos maracatus, os componentes das quadrilhas não ultrapassam, normalmente, os 40 anos. Uma quadrilha, contou Hugo, pode chegar a fazer cerca de 30 apresentações por São João.
“Durante as festas das quadrilhas, jovens articulam-se com outros, há a promoção de relações intergrupais, existe força política também por trás, por meio da Federação das Quadrilhas Juninas de Pernambuco (Fequajupe). Ao estabelecerem relações quase que familiares, as quadrilhas revelam-se como espaços intermediários entre o público e o privado”, argumentou. E prosseguiu: “A quadrilha junina vai além de um mero arraial, pois gera emprego e renda e as pessoas também se envolvem emocionalmente com aquilo”.

Hugo Menezes encerrou sua palestra com a fala de Fábio Andrade, da Quadrilha Lumiar:

“Quadrilha é toda uma expressão do povo, de comunidade, do jovem, da vontade de ser feliz, de dançar, de competir, de ser estrela, de ser brincante. Também é religião para quem ama, é alimento, fonte de energia”.
(Quadrilha Junina Lumiar (2008) no Teatro Guararapes)

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Luiz Santos